quarta-feira, 11 de julho de 2012

RECIFE - CRESCIMENTO E MOBILIDADE

Na coluna do CENOR da Folha de Pernambuco, no último domingo, foi publicado o resumo do texto de Waldecy Pinto que agora entra no ar na íntegra aqui, em nosso blog. As opiniões expressadas não refletem necessariamente a opinião do CENOR, mas este é um espaço aberto. Mande o seu artigo e os seus comentários.
por Waldecy Fernandes Pinto*
O Planeta Terra abrigará neste final do século dez bilhões de pessoas, esta é uma afirmativa da ONU, a Organização das Nações Unidas, órgão internacional que se preocupa com o bem estar dos que o habitam. O fenômeno do esvaziamento da área rural resultante das migrações para as áreas urbanas torna-se outro grande desafio para as gestões municipais, sem o preparo urbanístico para enfrentá-lo, principalmente nos países emergentes como o Brasil. Os desequilíbrios regionais são notados aqui em nosso país, principalmente nas cidades polos como verdadeiros “eldorados” como é o caso do Recife. A verticalização da pouca área privada existente no município tem desafiado os planejadores e, consequentemente, os seus gestores.
Presencia-se hoje, depois de décadas, que não se construíram as obras estruturadoras destinadas à mobilidade urbana, principalmente do sistema viário, projetado nas décadas de 1970/1980, quando foi concluída a 1ª perimetral denominada Avenida Agamenon Magalhães. O Recife, em termos de mobilidade, não oferece nenhum conforto aos seus munícipes, podendo-se afirmar que, atualmente, se apresenta totalmente paralisado. O deslocamento da população de todas as classes sociais está nitidamente em estado estático em termos de deslocamento, dos percursos diários da habilitação para o trabalho ou para a escola ou para o lazer. A saída do lar para qualquer ponto do território municipal ou metropolitano, mesmo enfrentando curtas distâncias de dez a vinte quilômetros, à medida do tempo, se realiza em horas, seja utilizando o veículo individual ou mesmo o coletivo.
A perda de tempo, o desperdício material, poluição atmosférica e sonora se alinham e se incorporam ao stress urbano que não deixa de ser uma das características da própria violência. Além dos problemas de circulação, se acrescem outros mais graves como a saúde e a educação. Na área da saúde o aumento dos hospitais e dos médicos mal remunerados, as ausências de vagas nas UTI e leitos, vem se tornando normativo, porque as existentes não estão dando conta das necessidades. Quando se pensa em saúde não se deve esquecer que a área metropolitana do Recife só está com 23% do tratamento dos esgotos em instalações seculares e se utilizando a rede precária das águas pluviais, dos rios, dos canais, dos córregos e das lagoas. Como resolver a saúde sem tratamento de esgotamento sanitário? E a drenagem? Juntando-se estas citadas deficiências com os prognósticos do crescimento populacional, tanto demográfico, quanto econômico, onde iremos chegar e como combateremos a violência?
O crescimento econômico produz automaticamente o aumento do poder aquisitivo e a busca do conforto material dentre eles o automóvel. A mão de obra de alto padrão requerida pelas empresas dos “ISO” e que estão no propósito de alavancar a região e em especial o Estado de Pernambuco, absorverão mão de obra que, possivelmente, migrará doutras regiões e até mesmo do exterior. Assim, neste prognóstico dos cenários apresentados para o desenvolvimento desta população que se exercitará funcionalmente nas cidades classificadas como “eldorados”, como se comportarão? Então se soma a tudo isso a preocupação do comportamento: do tecido e da malha urbana que não suportarão as exigências desenvolvimentistas. E a mobilidade, sem obras estruturadoras e a complementação do sistema viário existente e incompleto, se distancia cada vez mais do ideal.
E então, o que fazer? Os desafios são muitos, porque o tempo passou, a cidade cresceu em população, em poder aquisitivo e as gestões municipais andaram lentamente e se afastaram e muito das reais necessidades técnicas e científicas, abraçando as questões das assembleias participativas em que os pedidos e prioridades são altamente questionáveis em termos de custos e benefícios. Explica-se que a cidade deve ser vista e administrada em termos globais e não com distinção, com gestões visando unicamente o crescimento pessoal político, usando a máquina como trampolim. O plano da mobilidade deve estruturar a cidade como um todo, principalmente relacionado com os deslocamentos da sua população no seu território, visando à racionalidade e a integração das necessidades do ser humano como habitar, estudar trabalhar e recrear o corpo e o espírito, preconizado nas normas biológicas desde os primórdios da ciência do urbanismo.
*Waldecy Fernandes Pinto é arquiteto urbanista e presidente da Academia Pernambucana de Ciências. Foi secretário de Planejamento do Recife (1969-1970 e 1975-1979) e Reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (1983-1987).

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